Moradores de Realengo constroem e reformam instrumentos na função de luthier
Se o silêncio prevalece é porque está na hora de pegar o violão pelo “braço” para entregá-lo nas mãos de um especialista. Na Zona Oeste existem dois deles, ambos ex-policiais, que trabalham na recuperação do corpo inteiro do instrumento em uma luthieria, como é chamado o espaço onde também constroem ou reformam de guitarras a cavaquinhos.
O serviço, cada vez mais extinto no Rio de Janeiro, ainda ganha mercado em Realengo, o bairro onde a dupla Luiz Carlos Lodi, de 61 anos, e Rui Santos Barbosa, de 50 anos, há um ano, trabalha com a patente de luthier.
— Fazemos pelo prazer do trabalho artesanal, que é mais orginal. Aqui atuamos na peça única. Não é uma produção em massa. Para cada instrumento há uma atenção especial e uma preocupação com a qualidade do som. É diferente das indústrias, que se preocupam mais com a aparência do instrumento — explica Lodi, o dono da Luthieria LodiRB.
Uma vez acionados pelos cerca de 50 pessoas da lista de clientes atuais, inclusive igrejas , eles reparam ou criam instrumentos de cordas, a especialidade de Lodi, que confeccionou o seu primeiro violão aos 10 anos:
— Era de madeira, presa em lata de goiabada.
Trabalho em dupla dá certo
O trabalho em dupla na luthieria segue todos os dias, das 9h às 18h, no ritmo do cada um para o seu lado do balcão da oficina. Lodi no esquerdo e RB em frente à janela. Enquanto um corta o pinho europeu para fazer o tampo do violão ou o jacarandá de demolição para as laterais, o outro lapida o “braço” ou estica as cordas musicais para atingir o ponto ideal de afinação, que é de 440 hertz.
— Aprendi a fazer violão pesquisando na internet. Não fiz cursos. E até hoje eu pesquiso — ensina Lodi, que testa os instrumentos no estúdio anexo à oficina.
Já Rui dos Santos, de 50 anos, destaca a técnica.
— E a gente molda a caixa de ressonância (o corpo do violão) num ferro de passar roupa embutido na bancada — destaca RB.
Os clientes agradecem.
— O luthier tem boa regulagem e boa pintura — diz Fabricio de Mattos.